"O Piloto": você não precisa ser louco para ser piloto, mas isso com certeza ajuda.
A carreira de piloto é cercada de místicas e glamour, porém poucas pessoas sabem exatamente o que precisamos passar para estar a bordo de aeronaves que custam milhões de dólares e que transportam, além de nossas vidas, preciosas vidas alheias.
O conhecimento BÁSICO que todo piloto deve ter, seja piloto de asa fixa (avião) ou de asa rotativa (helicóptero), é o seguinte:
1) Regulamentos de Tráfego Aéreo: estudo aprofundado das normas que regem o tráfego aéreo no Brasil e no mundo, uma vez que a grande maioria das regras de tráfego aéreo tem validade internacional, pois são chanceladas pela OACI (Organização da Aviação Civil Internacional). Nesta disciplina estuda-se a divisão do espaço aéreo, os órgãos de controle de tráfego aéreo, códigos e sinalizações visuais para comunicação entre órgãos de controle e aeronaves, alfabeto fonético, etc;
2) Meteorologia Aeronáutica: estudo sobre as formações meteorológicas, seus riscos ao voo e os inúmeros códigos, cartas e mensagens meteorológicas de uso diário dos pilotos, tais como: METAR, TAF, SIGWX, SIGMET, AIREP, AIRMET, GAMET, WIND CHART, etc;
3) Navegação Aérea: estudo sobre como se deslocar com segurança, de um ponto a outro sobre o planeta, a bordo de aeronaves. Trata-se de saber ir e vir "andando no céu", sem contar com os recursos terrestres de placas ou uma paradinha no posto de combustível para pedir informação ao frentista. Hora local, hora legal, fuso horário, declinação magnética, cartas World Aeronautical Chart (WAC) e tantas outras integram esta disciplina;
4) Conhecimentos Técnicos da Aeronave: estudo sobre os tipos de motores e seus funcionamentos, tipos de fuselagem, instrumentos de bordo, funcionamento da aeronave, etc. Nesta disciplina pilotos de avião e helicóptero começam a ter aulas distintas;
5) Teoria de Voo / Aerodinâmica: estudo sobre os fenômenos físicos que envolvem o voo, em especial o estudo da força que o ar exerce sobre as aeronaves (aero=ar; dine=força), que vem a ser o estudo aerodinâmico. Sustentação das aeronaves, tipos de arrasto, forças que atuam em voo, stall, Centro de Gravidade (CG), peso e balanceamento e outros assuntos são abordados nesta disciplina. Aqui também pilotos de avião e helicóptero tem aulas distintas;
Terminado os cursos teóricos de formação, todo piloto deve realizar PROVA DE CONHECIMENTOS TEÓRICOS na ANAC a fim de comprovar o domínio das matérias supracitadas, pré-requisito indispensável para obtenção do CHT (Certificado de Habilitação Técnica) de piloto expedido pela ANAC.
Certificado de Habilitação Técnica (CHT) expedido
pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC)
Como se não bastassem essas 5 (cinco) disciplinas básicas, comuns a todos os cursos de Piloto Privado e Piloto Comercial de avião e helicóptero, ainda surgem outros desafios pela frente, como o famoso GROUND SCHOOL.
Em uma tradução literal, GROUND SCHOOL que dizer "Escola de Chão". Vem a ser um curso com estudo detalhado sobre determinada aeronave, seja avião ou helicóptero.
Diferentemente do que ocorre com os veículos automotores terrestres (carro, moto, caminhão, ônibus, etc), as aeronaves não possuem HABILITAÇÃO POR CATEGORIA, mas sim HABILITAÇÃO POR TIPO!!
Por exemplo: quem dirige um CARRO modelo Fusca está habilitado, na CATEGORIA "B", a dirigir também um CARRO modelo Porche; quem dirige uma MOTO modelo Honda CG 125 cilindradas está habilitado, na CATEGORIA "A", a dirigir também uma moto modelo Kawasaki 1.000 cilindradas, e por aí vai.
Com as aeronaves o negócio é bem diferente: para CADA AERONAVE que o piloto queira voar, é exigido pelo órgão aeronáutico competente (leia-se: ANAC), um GROUND SCHOOL da referida aeronave. E não poderia ser diferente...
Dependendo da aeronave a ser voada, um GROUND SCHOOL pode durar poucos dias ou até meses! O que vai definir o tempo do GS é a complexidade da aeronave.
Durante o GROUND SCHOOL o piloto estuda TUDO sobre a aeronave que pretende voar, a saber:
1 - Descrição geral da aeronave, onde estuda-se as características básicas da aeronave, o fabricante, o tipo de motor que utiliza, o tipo de rotor, o tipo de pás do rotor, etc;
2 - Compartimento da tripulação, onde estuda-se o sistema de instrumentos de voo, o sistema de instrumentos de propulsão, os instrumentos de navegação, dentre outros;
3 - Limitações operacionais, onde estuda-se o tipo de operação para a qual a aeronave está homologada, as limitações de altitude, velocidade, peso (interno e externo), limites longitudinais e laterais do Centro de Gravidade (CG), limitações do grupo moto-propulsor, limites de pressão do óleo, limites de temperatura do óleo, limites de temperatura da saída de gases das turbinas, limites da pressão de combustível, limitações de partidas do motor, limitações do óleo da transmissão, limitação do rotor, etc
4 - Fuselagem, onde estuda-se os setores da mesma (dianteiro, central e traseiro), a estrutura da cabine, a estrutura das portas, do bagageiro, do parabrisa, das janelas, o compartimento de equipamentos, os estabilizadores (horizontal e vertical), o sistema do trem de pouso, filtros, amortecedores, etc.
5 - Powerplant (Grupo Moto-propulsor), onde estuda-se o modelo de motor inserido na aeronave, seus limites de potência no eixo, potência para decolagem, potência para operação contínua, potência máxima transiente, RPM das turbinas geradoras de gases e de força, escapamentos, combustão e refrigeração do motor, acionamento da caixa de transmissão, bombas de combustível, gerador, motor de arranque, bombas de óleo, governador da turbina, torquímetro, unidade de roda livre, sistema de sangria de ar do compressor (Bleed valve), sistema anti-congelamento, etc.
6 - Sistema de combustível, onde estuda-se a capacidade do reservatório, operação da válvula shut-off, bombas auxiliares, dreno de combustível, filtro de combustível, luz de baixo combustível, sistema elétrico de dreno, etc.
7 - Manuseio/Serviço/Manutenção, onde estuda-se as coberturas e amarras do helicóptero, os tipos de combustível permitidos para a aeronave, tipos de óleo permitidos para a aeronave, quantidade de combustível não utilizável, quantidade de óleo do motor, quantidade do óleo da transmissão, quantidade de óleo da caixa de transmissão do rotor de cauda, fluido hidráulico, lubrificação, etc.
8 - Transmissão e eixo de transmissão, onde estuda-se a unidade de roda livre (Freewheeling unit), o eixo de transmissão principal, o eixo do rotor de cauda, ventilador de refrigeração do óleo, engrenagens internas da transmissão, montagem da transmissão, mastro do rotor principal, cubo do rotor de cauda, etc
9 - Sistema hidráulico, onde estuda-se os servo comandos do cíclico e coletivo, o check pré-voo do hidráulico, bomba, regulador de pressão, válvula solenóide, dutos, mangueiras, filtro hidráulico, sistema de pré-entupimento, mal funcionamento, etc.
10 - Controles de voo, onde estuda-se os sistemas de controle do helicóptero, em especial os sistemas que envolvem o manche de comando cíclico, o coletivo e os controles do rotor de cauda.
11 - Sistema elétrico, onde estuda-se o sistema de corrente elétrica presente na aeronave, o sistema de bateria, starter, gerador, ventilação da bateria, overtemp da bateria, operação com fonte externa de energia, componentes do sistema elétrico, etc.
12 - Performance, onde estuda-se a performance da aeronave, gráficos de power-check, gráfico de efeito solo, gráfico do teto para voo pairado (Hover) In Ground Effect (IGE) e Out Ground Effect (OGE), carta de vento relativo crítico, diagrama altura X velocidade, etc.
13 - Peso e Balanceamento, onde estuda-se a distribuição das cargas no helicóptero, o momento gerado por cada carga, a delimitação do CG lateral e longitudinal, o gráfico de passeio do CG, carregamento da cabine e dos bagageiros, peso bruto, peso vazio, etc.
14 - Procedimento normais, onde estuda-se as operações normais de partida, decolagem normal, decolagem corrida, decolagem direta, voo reto e nivelado (cruzeiro), voo pairado IGE e OGE, aproximação para pouso, pouso corrido, pouso direto, pouso normal, limitações de operação, planejamento do voo, etc.
15 - Procedimentos de emergência, onde estuda-se as correções de todas as possíveis panes que a aeronave pode apresentar em voo ou no solo, tais como fogo no motor durante a partida, fogo no motor durante o voo, procedimentos para falha do motor em voo e pouso em autorrotação, condições para partida do motor no ar, falha do FCU e/ou governador, falha no controle do rotor de cauda, completa perda de controle do rotor de cauda, falha no sistema hidráulico, falha de força elétrica, falhas no sistema de combustível, sistema de aviso sonoro, painel de luzes de aviso, etc.
Após o GROUND SCHOOL, é obrigatório ao piloto comparecer à ANAC para realizar uma PROVA DE EQUIPAMENTO a fim de INICIAR o treinamento em voo da referida aeronave.
E tem gente que acha que piloto vive só voando...
Cmte Duton
Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, em Florianópolis, onde realizei
recentemente o GROUND SCHOOL do helicóptero BELL JET RANGER III
Desistiu do blog Comandante?
ResponderExcluirTudo bem? Me chamo Walker, sou formado em Administração trabalho em uma empresa familiar que faz skates, mas sempre tive o sonho de ser militar, como moro em Campo Largo - PR e aqui tinha somente o "tiro de guerra" acabei não servindo o exército, mas continuei com a idéia. Hoje aos 26 anos após já ter trabalhado em vários lugares decidi ir atras do meu sonho, mas de uma forma diferente. Vou iniciar o curso de piloto de helicóptero dia 24/09 a intenção é me tornar piloto comercial, mas gostaria muito de poder tentar uma carreira militar. Acha que sou muito velho pra isso? Sabe aonde poderia tentar? Agradeço muito e excelente blog eihm...