segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Texto do Cmte Bosco sobre o acidente com o "Zé"

Reproduzo em meu blog um emocionante texto redigido pelo Cmte João Bosco Ferreira sobre o acidente ocorrido com o helicóptero "Zé" (PT-HZE) já publicado no site PILOTO POLICIAL. Segue o texto na íntegra.


O site Piloto Policial publica comentário escrito pelo Comandante Bosco na notícia sobre o acidente em que se envolveu, agradecendo todas as manifestações de apreço apresentadas por nossos leitores. Comandante Bosco, o nosso “Zé” (PT-HZE) realmente fará falta, mas o Senhor é insubstituível, portanto, somos gratos ao “Zé” por ter protegido um bem muito maior – a vida. Muito Obrigado “Zé” por ter cuidado desse homem de valor.  Eduardo Alexandre Beni – Editor do site Piloto Policial.
 JOÃO BOSCO FERREIRA
Meus amigos, Perdoem-me pelo tempo sem notícias. Estou bem. Agradeço do fundo do meu coração pelo apoio, pelo carinho, pela força, neste momento difícil. Tenham a certeza de que era e é tudo de que preciso para me manter com a cabeça no lugar.
A presença da família, fundamental… A Cáthia, incansável… A Ju, sempre presente, mesmo que a milhares de quilômetros… A Paulinha, disponível H24, sete dias por semana… O João Vitor, com todo o cuidado e literalmente, me carregando quando necessário… Minha mãe, meus irmãos, os companheiros da EFAI torcendo e solidários como sempre.
Não quero me alongar muito e nem vou citar nomes porque não vai ter fim e posso cometer alguma injustiça, mas não deixa de ser emocionante receber pessoas queridas que vieram de longe e saber que tem, ao lado, um verdadeiro batalhão disponível e de prontidão para qualquer eventualidade. E eu estou usando e abusando! Quem já voou comigo, ouviu incontáveis vezes a mesma ladainha: – “Acidentes acontecem”; – “Estas imagens mostram acidentes e, de modo algum, estou querendo dizer que se fosse comigo o resultado seria diferente. Isto é, apenas, uma ajuda de instrução…”; – “A decisão que o piloto toma, no momento do sufoco, sempre é a melhor.
Depois, na sala de briefing ou no bar, de preferência com um choppinho na mão, fica fácil encontrar outras possibilidades, mas, na hora da necessidade e com as informações disponíveis, aquela era a melhor solução”. Sou apaixonado por helicópteros, mas o Esquilo é especial. Não conheci nada igual.
Agora, o “Zé!” aí a coisa complica… É uma relação de amor à primeira vista e para a vida toda. Não me confundam!… Estou, é claro, falando do PT-HZE! É o meu xodó.
Não vou falar, hoje, sobre o que aconteceu! Vai ficar para uma outra oportunidade! Prometo não demorar. Por enquanto, vou, apenas, lembrar uma coisa que tenho dito há muito tempo. “Se algum dia eu quebrar o “Zé”, não vou ter nada nem ninguém para botar a culpa. Eu terei feito “besteira!”” Então, só para ficar claro para todo mundo: “FIZ BOBICE”. Não adianta ficar procurando culpados: “FIZ ASNEIRA”. É inútil ficar imaginando situações complexas, manobras complicadas ou qualquer coisa que exija habilidade excepcional! Nada disso: “FIZ BOBAGEM”.
Foi Deus quem colocou o “Zé” na minha vida! Demorei para entender o “porquê”. {Deus protege os imbecis!} Sempre achei que estava cuidando bem dele… Pelo menos no chão… Pecas, sempre de boa origem… Combustível, somente de qualidade comprovada… Ar puríssimo (olha o merchandising aí, gente!).
E os técnicos que cuidaram do “Zé”? Só gente muito especial! O “Zé” nunca foi para qualquer um! Quem botou as mãos nele, nem que tenha sido por uma vezinha apenas, certamente, vai se lembrar. Eu tentava não interferir, mas, na realidade, acho que eu ficava igual a uma galinha choca em cima. Houve quem tenha ficado bravo, e com razão. Teve quem perguntasse que frescura era aquela… Era só ciúme.
Agora, eu sei. Eu sabia que o “Zé” nunca ia me deixar na mão. Mas, em vôo, a coisa mudava de figura… Maltratei muito o pobre… Era pouso sem pedal, pouso sem motor, pouso sem governador, pouso sem isso, pouso sem aquilo. O “Zé” não  é muito voado, mas tem mais de oitenta mil pousos.
Foram quase trinta mil pousos em autorrotação real. Mais de cinqüenta horas com a buzina tocando. Mais de duzentas horas com o motor reduzido… Quanta maldade! Aí, quando cheguei ao extremo da estupidez e o destruí completamente, ele, como um garoto bem comportado que sabia muito bem o que estava fazendo, foi transferindo toda aquela sua imensa energia vital para cada pedacinho que ia se soltando de forma a me proteger.
Dadas as circunstancias, posso dizer que saí praticamente ileso. Ele cumpriu a sua missão. Eu não soube cuidar dele. Eu pensava que o amava. Ele me amou mais que eu a ele. Sacrificou-se por mim.
Perdoa aí, “Zé”! Foi mal.
Como não poderia deixar de ser, fica aqui registrada mais uma bela lição do nosso mestre! Que Deus continue a abençoar o senhor, Cmte Bosco!
Cmte Duton

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